Consideradas como um "fenômeno urbano", desde os primórdios do povoamento do país, as associações religiosas, também conhecidas como irmandades, costumavam surgir quase simultaneamente com os primeiros exploradores.
Estudos apontam que as irmandades religiosas estiveram presentes na Europa Ocidental desde os séculos XII e XIII, sendo as associações religiosas brasileiras concebidas nos moldes da tradição medieval. Dessa maneira, não havia interesses ou finalidades profissionais, mas religiosas, caritativas, sociais e raciais.
As irmandades também eram utilizadas como forma de controle social pela Coroa, visto que as camadas da sociedade utilizavam essas associações como ponto de reunião de interesses semelhantes, o que não afastava a prática de religiosidade.
Salles (1963) observou que nas Minas do século XVIII (Ouro Preto, Mariana, Sabará e São João Del Rei), inicialmente surgiam as irmandades do Santíssimo, representante da máxima autoridade da corte celeste e, depois, se fundavam as irmandades dos negros, normalmente ocupando os altares laterais dos templos“[...] os que se unem em primeiro lugar são os brancos, os quais, não permitindo a entrada de pretos, criam a motivação para que êstes organizem suas irmandades [...]. (SALLES, 1963, p. 37).
As irmandades negras normalmente eram dedicadas à Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia ou São Benedito. Mas também havia devoção dos negros à Santo Antônio de Catagerona, São Gonçalo e São Onofre.
A mais famosa e difundida das irmandades compostas por negros foi a de Nossa Senhora do Rosário.
Apesar de alguns autores considerarem que os negros em irmandades eram conformados e passivos com o sistema escravagista, as irmandades negras são consideradas como forma de resistência no período colonial, inclusive quanto à morte, visto que era comum enterrar os corpos negros em campos, no mato ou no rio.
Em Pirenópolis, a presença do negro, seguindo a tendência de outras localidades de Goiás foi motivada pela dinâmica econômica, que se fundamentou no trabalho escravo, desde a extração de ouro até o cultivo do solo.
Conforme IPHAN (1985), os primeiros comboios de escravos, trazidos de Salvador, começaram a chegar em Meia Ponte (Pirenópolis era anteriormente denominada de Minas de Nossa Senhora do Rosário de Meia Ponte) entre 1732 e 1733. O comércio de escravo em Goiás era feito especialmente através da Bahia, vez que os negros africanos que desembarcavam no Rio de Janeiro eram vendidos às Minas Gerais.
O acesso dos negros (e pobres) à Matriz de Nossa Senhora do Rosário era restrito, o que motivou a edificação de uma igreja própria, cuja incumbência ficou a cargo da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos . Esse templo é a Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que iremos tratar nessa seção.
Posteriormente, fundou-se a Irmandade de São Benedito, que passou a ocupar um dos altares laterais da Igreja dos Pretos, que nas palavras de Lôbo (2006, p. 40) “representou um marco fundamental de identidade por abrigar duas confrarias cujos membros, em sua maioria, eram negros, forros e escravos”.
As irmandades de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito eram regidas por Termos de Compromisso, que traziam regras de organização interna, em razão de diferentes cargos dentro das associações religiosas.
Também haviam regras sobre valores a serem pagos pelos associados no ato de sua inscrição e contribuições posteriores.
Também são nos Termos de Compromisso que se encontram regras relativas aos sepultamentos realizados pelas irmandades.
O termo da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário se encontra no acervo do INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS HISTÓRICOS DO BRASIL CENTRAL (IPEHBC), localizado na R. 233, 141 - Quadra 50 Lote 15 - Setor Leste Universitário, Goiânia - GO.
Por sua vez, o termo da Irmandade de São Benedito pode ser acessado digitalmente, por meio do site do ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO, clique aqui.
BOSCHI, Caio Cézar. Os Leigos e o Poder (Irmandades Leigas e Política Colonizadora em Minas Gerais). São Paulo: Editora Ática, 1986.
LÔBO, Tereza Caroline. A singularidade de um lugar festivo: o Reinado de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e o Juizado de São Benedito em Pirenópolis. 2006. 152 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2006.
IPHAN. Processo nº 1.181-T-85. Processo de tombamento do Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico de Pirenópolis – Goiás, 1985.
LOIOLA, Maria Lemke. Trajetórias para a liberdade: escravos e libertos na capitania de Goiás. Goiânia: UFG, 2009.
REIS, João José. Identidade e Diversidade Étnicas nas Irmandades Negras no Tempo da Escravidão. Tempo, v. 2, n°. 3, p. 7-33, 1996.
SALLES, Fritz Teixeira de. Associações Religiosas no Ciclo do Ouro. Belo Horizonte: Universidade de Minas Gerais, 1963.
SCARANO, Julita. Devoção e Escravidão. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1978.
SODRÉ, Muniz. O terreiro e a Cidade: a forma social negro-brasileira. Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 2002.
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