O Bloco Aláfia é um exemplo de apropriação eventual da Praça do Coreto, motivada pela história do lugar e em razão de sua visualização como um território negro.
A palavra “Aláfia”, de origem iorubá (àláfíà), significa “prosperidade”, “saúde”; “sucesso” 2018). O termo também está ligado ao jogo de búzios, presente em religiões de matriz africana, especialmente o candomblé.
Conforme falas de alguns de seus membros, o Bloco é regido por Xangô, orixá cultuado pelas religiões afro-brasileiras que representa a justiça e comumente é ligado à figura de um machado, símbolo este que é marcado na bandeira que representa o Aláfia.
Mesmo sendo uma manifestação carnavalesca, o Bloco traz consigo carga de religiosidade de matriz africana, que pode ser percebida pelos rituais de proteção e reverência ao orixá que rege o bloco, que é composto pelas alas: porta bandeira, berimbaus e capoeiras (“Filhos do Quilombo”, grupo de Ceilândia-DF), baianas, namoradeiras e turbantes.
Em todas as descidas realizadas no carnaval, simbolicamente, o Bloco passa pela Praça do Coreto como forma de reverenciar seus ancestrais.
"Passar no coreto dá um sentido, assim, de retomada, de reconquista pra nós. É uma vivência que nós sentimos, é tipo assim, dando uma satisfação aos nossos ancestrais daquele espaço, sabe? Esse espaço já foi algo, esse espaço é algo e esse espaço será algo [...] Tipo assim: descemos o morro, consagramos as ruas de Pirenópolis e paramos ali no Coreto. A hora do espaço da parada do Bloco Aláfia no Coreto pega fogo. É muito bom, é uma energia sem igual, sabe? E atravessamos ali no meio do Coreto, ficamos ali um tempo, assim, de uns quarenta minutos a uma hora, tocando tambores mesmo e cantando e capoeira e as alas fazendo as apresentações, alas dos baianos, alas das namoradeiras, a nossa ala, que é a dos turbantes, né? Das rainhas coroadas, a turma da capoeira, sabe? O grupo do toque, impressionante, e a representação da figura do Xangô com o bandô. Chamamos bandô, que é uma sombrinha branca que a pessoa carrega. Os dois últimos anos quem levou foi o Jalmir, que é um componente, ele tem quase dois metros de altura, né? E usa os dreads bem longos mesmo, nós temos muitas fotos e ele levou esse bandô [Figura 21]. Chama muito a atenção e muito bacana e tem a bandeira também do Aláfia, não sei se foi os dois últimos anos ou no último ano, quem levou a bandeira foi a Gil. A Gil que foi a frente também abrindo alas, né?" (Adelina Benedita Alves Santiago, em 01/12/2021).
"Você sente a vibração, sabe? Quando você chega no Coreto, vai ter batuque, o toque, as músicas, você sente a vibração, a energia dali. Como é que é bonito, representativo, sabe? Então você sente assim, que a negritude que foi enterrada ali, né, o orgulho deles falar assim, "nossa, olha, lá atrás eu sofri tanto, não podia manifestar, não podia falar, a gente tinha que ter a nossa própria igreja e tudo mais e hoje em dia, olha o que acontece", né? Os batuques, as pessoas cantando, sabe? Então, você sente essa vibração. Assim, é muito significativo, sabe? Não só pra comunidade negra, mas pra comunidade não negra que conhece a história." (G.T.F.G, em 29/11/2021)
Fonte: Bloco Aláfia (página pública - Facebook) - Disponível em: https://www.facebook.com/Blocoalafia/videos/704083110007267/
Fonte: Bloco Aláfia (página pública - Facebook) - Disponível em: https://www.facebook.com/Blocoalafia/videos/1956026707996787
O Bloco Aláfia, por vezes, também ocupa o Coreto em situações fora do contexto carnavalesco.
Em 2017, por exemplo, foi realizada uma oficina de Bonecas Abayomi, seguida de uma roda de conversa com o tema Africanidade.
"[...]a escolha do coreto foi assim proposital mesmo, porque eu sinto que é um espaço de conquista, né? E é um espaço nosso diante da oralidade local. A gente vê alguns escritos com relação ao coreto, mas a gente sabe que o escrito, ele não diz tudo, né? Papel você pega o papel você pode colocar tudo, mas tem uma sequência na oralidade que a gente percebe que tem uma interrogação ali naquele espaço, naquele local e precisa ser desnudado, digamos assim, né? [...] Então aquilo ali, ela teve um grande significado pra gente sim. E mesmo que é uma circularidade, o formato do coreto ali no circular, é olho no olho, você não fica na nuca do outro, né? Você está sempre tete a tete. Isso é muito importante." (Adelina Benedita Alves Santiago, em 01/12/2021).
FOTOGRAFIAS
Página do Bloco Aláfia (Facebook) - https://www.facebook.com/Blocoalafia/
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